sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"você comporta minha pequena imensidão..."

"Sabe o que me dá medo? Me dá medo que a gente não seja as tais "almas gêmeas" que se encontraram, e num dia qualquer, a gente deixe de ser "a gente". Porque eu tenho medo de não saber ser isso que sou contigo, com outra pessoa. Eu tenho medo desse meu jeito de não saber ser metade, desse meu jeito de não saber me dar pela metade. Tenho medo de ter me dado demais pra você e não saber o caminho de volta. Tenho medo de não saber como me recolher de volta, caso seja necessário. Porque os meus pedaços já estão tão espalhados e ligados a você, os meus pedaços já são tão teus, que tenho medo que eles não saibam ser de outro alguém. Tenho medo de não existir um ser que comporte outro ser, como você comporta minha pequena imensidão. Tenho medo, sobretudo, desse alguém não ser você. "

Valdeline Barros (apud Flor de Cerejeira- Ísis Delmiro)

Grito.

Prisão que não se vê
Um tempo
Um lugar

 
As paredes se fecham ao redor
Gritos surdos
Mentes mudas

 
Momentos derradeiros
Agonia.
Pensamento
Calmaria...

 
Um grito.
Um sopro de vida.
Uma despedida.

sábado, 2 de outubro de 2010

Mais um dia


Acordou as 4:00 da manhã, olhou ao redor e não enxergou  bem o seu quarto. A escuridão do ambiente e sua miopia não deixaram.  Levantou-se com suas roupas velhas de dormir, pegou o celular que tocava  uma musica meio distorcida... seria mesmo uma musica? Não, não era. Era uma voz que praticamente recitava um texto que ela conhecia bem, aquela voz havia escrito o texto pra ela. Quis ficar mais na cama, queria ouvir mais, a voz a acalmava... Acabou adormecendo novamente. A voz novamente recitava o texto, não pode mais adormecer. Tinha muito que fazer. Saiu da cama. Pegou a toalha que ficava displicentemente jogada no puxador da porta do guarda-roupa, foi até o banheiro, tomou banho, escovou os dentes, saiu com frio enrolada na toalha, foi até o quarto e se vestiu, chateada por não encontrar sua calça favorita. penteou os cabelos longos e pretos com a displicência de sempre, pegou a bolsa já pronta, afinal, grande parte do conteúdo dela não saía de lá nunca. E saiu.
 O sol ainda não tinha nascido quando ela subiu no ônibus sem enxergar bem ao redor. Não, dessa vez não era a escuridão nem a miopia, mas o sono e a falta de atenção. Parecia que mesmo de pé sua mente continuava em sonho, em transe. Pensava sobre muitas coisas: A vontade de estar na cama, a ultima “tarde” de amor que teve com o ainda namorado, na esperança ainda distante de transformá-lo em algo mais do que isso. Sonhava...  pegou o fone de ouvidos na bolsa, colocou nos ouvidos, a musica servia apenas como fundo musical dos pensamentos, as vezes nem era percebida, servia para abafar o barulho do motor do ônibus e o fervilhar das vozes ao redor. Continuou vagando por suas lembranças, pensamentos, desejos, anseios... Chegou ao trabalho. Não, ela não gostava do emprego. Esta era a parte do dia que não merecia comentários, apenas um ou outro colega, apenas um ou outro absurdo q ouvia. Voltou pra casa mais uma vez absorta em seus pensamentos, dessa vez mais frustrada por lembrar que estava presa àquela situação. Chegou em casa, jogou a bolsa a um canto, tirou os sapatos, esquentou o almoço. Comeu com pressa para poder descansar. Deitou com a mesma roupa q estava e dormiu, e sonhou. Nunca lembrava com o que sonhou, mas sempre com quem sonhou. Era ele que povoava seus sonhos por mais absurdos que fossem. Acordou mais uma vez com o celular que tocava uma outra musica. Levantou, ligou para ele que já estava quase pronto. Como era bom ouvir sua voz, e melhor ainda era ver aquele rosto conhecido e amigável subindo pela porta do que pegou logo após ter tomado banho, se arrumado e discutido pela milésima vez com sua mãe. Foram juntos até parte do caminho, como geralmente faziam, nesse dia ela estava mais calada do que o normal, não pode se alegrar com a animação dele, mas também não quis dividir o que estava sentindo para não deixá-lo triste. Guardou e tentou calar. Mas as lagrimas falaram por ela. Tentou esconder, talvez tenha conseguido. Chorou. Chorou como alguém que perdeu algo importante... Mas o que ela havia perdido? Sua força. Sentia-se fraca, impotente, presa, amordaçada. Ela o abraçava, mas ao mesmo tempo tentava se afastar, não queria que ele a sentisse como um peso. Mas chegou a hora de seus caminhos se dividirem, ele se despediu com um beijo e foi. Ela permaneceu ali, inerte, com lagrimas nos olhos, tentando entender por que não conseguia fazer nada para sair daquela situação... por todo caminho permaneceu tomada por seus pensamentos. A cada flash de lembrança que vinha a sua cabeça, mais lagrimas vinham a seus olhos. Se via como um peso na vida dele, se esforçava para estar bem com ele mas nem sempre conseguia, esperava coisas dele que não se sentia a vontade em falar, cobrava outras que ele não aceitava. Sentia-se mal. Chegou a faculdade. Lá era o ambiente mais ameno em que convivia. Gostava do curso. As pessoa eram agradáveis mas não muito próximas. Esteve apenas presente. Não prestou atenção em nada do que os professores disseram. Voltou para casa  bocejando e mais uma vez pensando... dessa vez pensava no quanto queria ver bem... estar bem... A solução que via ainda estava tão distante, mas de certa forma trazia esperança. Ela sabia que eles seriam mais felizes assim... chegou em casa como sempre cansada. Entrou, jogou a bolsa e a pasta a um canto novamente, comeu alguma coisa que não sentiu bem o gosto, o cansaço não deixou. Trocou de roupa, deitou, não dormiu, esperou. Não dormia enquanto ele não chegasse, ficava preocupada. Só a voz dele, minutos mais tarde, trouxe o sono, a paz. Dormiu. Dormiu mais uma vez frustrada, como alguém que dorme preso, sem saber por qual crime. Mas dormiu também com saudades dos dias em que tem um bom convívio com os pais, em que ri com eles. Dos dias em que pode ter seu namorado ao lado, em que pode dormir em seu peito. Esses dias, tão diferentes deste aqui narrado, eram os dias que faziam seus 19 anos de vida valerem a pena, eram os dias que lhe traziam o sopro de vida que a mantinha de pé para suportar todos os dias como este.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

...


Existem coisas que se tornam realmente difíceis quando se ama alguém. Pensar é uma delas. Este deixa de ser um verbo intransitivo para ser transitivo entre o eu e o nós. Outra das coisas mais difíceis é ser: Sem um com um pedaço fora... Ser do outro sem se perder de si mesmo... Ser aos outros e ser ao outro...
Quem sabe tudo isso seja apenas delírio de uma mente transformada do dia pra noite em brilhante, que consegue a partir de um conjunto de equações desconhecidas transformar as expressões 1+1=1 e 2=1 em verdadeiras
Números, formas, cores e nomes se confundem num mar de sensações desconhecidas, novas. Tentamos entender, controlar, explicar... Mas são esforços vãos.
Tantos números e verbos tornam-se complexos diante da simplicidade de coisas como estar próximo, dedicar-se ao outro... E ainda mais diante daquilo que não pede explicações, Da mais simples e fácil de todas as coisas: AMAR!
Hoje, amo e a cada dia aprendo a lidar com as dificuldades que isso me traz, mas acima de tudo adoro a simplicidade que encontro em tal ato!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Antigo...

Momentos de silêncio, quebrados por risos, palavras por vezes doces... vontade de ficar.
Hoje sinto que encontrei o que muitos almejam. A cada dia aprendo a lidar com isso. Fácil? nem sempre. Confuso? Muito! Porém é a confusão mais clara da minha vida. Meus sentimentos dançam em minha mente, entorpecidos por uma nova música que invade meus sentidos.
Sinto-me desligar do mundo, essa melodia silenciosa faz-me esquecer tudo... problemas, dúvidas, ansiedades... Nada importa. Nada me atinge. Em nosso mundo temos uma cúpula.
Nada mais é só meu... Nosso mundo!
padrões de sentimento e comportamento não ultrapassam nossa proteção, mas a quem disse que o amor e a felicidade seguem padrões, desejo boa sorte!
"Não, não digo "pra sempre", pois como um dia alguém disse," o pra sempre sempre acaba", porém digo sem medo de errar: AMO!



Faz tanto tempo q escrevi este... Tudo era diferente... Mas muita coisa ainda vale...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vozes


Enquanto uns exaltam uma liberdade acorrentada a valores distorcidos, outros distorcem valores a procura de uma liberdade que está tão próxima deles que estes, por hora, insanos, não podem enxergar.

Uma tempestade de vozes ecoa em minha mente, vozes que gritam silenciosamente por algo que sempre tiveram, vozes que sussurram aos berros por algo que crêem ter, mas nem ao menos sabem qual é a cor daquilo que exaltam.

Dentre tantas vozes, uma se destaca. Esta voz mansa e suave, usa de frases curtas e não deixa que a minha própria se misture ao caos e a degradação.

Você não é assim...

Cuida do teu...

Qual o sentido disso?

Quem dera as vozes que hoje ecoam, ouvissem os grilos falantes que estão sempre em seus ombros... Ou será que estes grilos já foram mortos e amordaçados numas esquina qualquer?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Escuridão



Rostos, vozes, toques, olhares jogados a esmo. Necessários por breves momentos, tornam-se insignificantes ao fechar dos olhos.
Escuridão. Ausência de luz que traz à lembrança, o toque, a pele, o cheiro, a sensação. Sensação de estar preso a uma liberdade sem fim. Um isolamento povoado pelo necessário. O silêncio que rodeia o refugio, grita coisas que o mundo não entende. O cuidado explícito, não seria percebido nem pelo olhar mais atento daqueles que ousam julgar.
Ter, ser, estar. Sempre conjugados na 1º pessoa do plural, sempre conjugados num breve espaço de tempo numa mesma ação, ação de corpos imóveis, de mentes que vagam pelo tempo e espaço sem ultrapassar os limites entre os corpos inertes.
A claridade traz as cores, os rostos, as vozes e olhares. Novamente os dois corpos são dois, e cada alma só tem sua própria casa. A luz traz a saudade das pupilas dilatadas, da ausência do temor, da presença, do suor. E a cada fechar de olhos é na escuridão que se encontra o refugio da mente. Refugio da luz que cega, desvia e desnorteia.


terça-feira, 31 de agosto de 2010

As botas


A falta dos sapatos em casa me lembravam que ele iria chegar logo, que ele estava lá fora enfrentando o mundo no seu trabalho de super-herói...
Quando ele voltava, me pedia que eu o ajudasse na sua transformação de super homem em novamente um homem normal ... Eu descalçava suas botas, maior simbolo de sua luta, e lá estava ele novamente, desarmado, cansado, mais uma vez com o sentimento de dever cumprido, de ter salvado o dia, de nos manter.

O que nem ele, nem ninguém imaginava, era que nosso super homem não era a prova de balas como o dos filmes...

Hoje, a presença dos sapatos em casa, só traz a lembrança de que um dia tivemos um super herói entre nós, que não usava capa, não voava, nem tinha super poderes,mas com suas botas já velhas e cansadas e seu uniforme gasto e sem cores, enfrentava o mundo todos os dias por sua família.