domingo, 1 de abril de 2012

Pensamentos ao mar...


Conquistou-me com gestos simples, poucos, belos e pausados sons... Suas idiossincrasias chamaram-me atenção, riso doce e por vezes irônico que fazia eu me perder na fenda de seus olhos, tentando mergulhar naquele oceano escuro e cheio de mistérios, até hoje, não revelados. Aos poucos fui me embrenhando naquele bosque de semelhanças, me envolvi ao ponto de não mais saber voltar. Às voltas no bosque, desejando de toda a alma banhar-me naquele mar, mas negando com  toda a razão. Aos poucos o bosque guiou-me ao mar, de modo que eu já me imaginava velejando ao sabor do vento...
Em fim, mergulhei...
Acreditei que assim desbravaria profundezas jamais visitadas, me embeberia naquela agua tão turva quanto calma, decifraria enigmas... Mas o sal cegou-me. Aos poucos meus olhos acostumaram-se à salinidade daquele silencioso mar. A agua turva me fez ter que aproximar-me em demasia para poder ver, o que me causou pequenos acidentes com estranhas criaturas que feriam, dolorosamente, aqueles que ousavam aproximar-se... Eu era única ali. Muitos admiravam e até tentavam banhar-se nas margens, mas ninguém mergulhara. Em dias de tempestade, sofro nas aguas revoltas e, por vezes, pensei em voltar, mas não saberia mais viver em terra firme, longe do doce e natural balançar das aguas. Acostumei-me ao oceano, a pouca luz, ao marulhar da agua, a sensação de vertigem e, às vezes, até um pouco de falta de ar ( a imensidão pode ser sufocante, sabem?).
O mar já faz parte de mim e, de alguma forma, acredito que ele estaria incompleto sem minha presença.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Família


Acordou aos solavancos. Depois de uma noite de sonhos confusos, ela levantou-se para que não precisasse mais ouvir os gritos que a atormentavam. Ergueu-se quase sem vontade, sabia que não era por bem que estava indo. Ao chegar à cozinha suas suspeitas se confirmaram, mais uma tarefa supérflua, mas extremamente desgastante a aguardava. O dia foi se arrastando, por mais que ela tentasse aproximar-se da relação, nada funcionava, eram esforços inúteis. Naquela noite, não conseguiu dormir, pensava sobre todas as coisas pelas quais era obrigada a submeter-se, sonhava, ainda acordada, com todas as coisas que gostaria de fazer, mas ainda não podia... A vontade de dormir era conturbada por lágrimas, gritos abafados, uma vontade imensa de sair, juntar as poucas coisas que podia chamar de suas e ir embora, sem destino, mas pra longe de tudo aquilo. Sentia-se participante de um grande teatro, onde as pessoas fingiam tudo que lhes era conveniente, mas nisso ela não era boa. Sabia bem dizer a verdade, esse sempre foi o seu forte, mas isso não a tornava participante daquele mundo de mentiras e padrões sociais, pelo contrário, afastava cada dia mais. A entidade social chamada família, já não fazia sentido, pelo menos não essa. Não conseguia conceber a idéia de que precisava conviver, respeitar e obedecer a pessoas que só se preocupam com seus próprios egos, conceitos e crenças. Seus pensamentos se confundiam a cada vez que ouvia alguma crítica... Será que todo o problema se resumia a ela? A sociedade prega que devemos nos submeter às ordens e desmandos de nossos “superiores”, mas ela não cabia nos desmandos dos seus, não fazia parte dela ser diferente de sua essência. O sono demorou muito a chegar, sua mente estava cansada, mas recusava-se a deixar-se levar pelos sonhos, tinha medo do que viria pela frente. Vários dias se seguiram a esse, e alguns poucos momentos de alegria a iludiam, fazendo-a acreditar que ainda podia ser feliz ali, que ainda podia ser igual aos outros, que ainda conseguiria não ser julgada pelas duras cortes da sociedade. E os dias se acumularam, e os valores que ela acreditava que ainda existiam foram de esvaindo diante de seus olhos, já não acreditava mais que poderia sair dali. Conformou-se com a idéia de tolerar, crer em algo que não tinha ainda, nem conhecia, mas que pretendia construir com suas próprias mãos. O famoso “porto seguro” símbolo que a família representa na sociedade, já não existia para ela, mas fingir crer algumas vezes lhe dava forças para continuar em frente, trilhando um caminho sem ponto de retorno, tentando não olhar para o espelho que carregava, tentando não se perder. Finalmente dormiu e mais uma vez se perguntou se realmente queria acordar.

domingo, 14 de agosto de 2011


Quantas vezes me senti sozinha? Foram muitas, eu sei.
Na infância, eu era a criança que não podia. Não podia brincar, não podia sair e, consequentemente, não podia ter amigos. Foi um tempo que marcou pelo vazio que só a TV preenchia . Esse vazio deveria estar cheio de sonhos, ideias absurdas e muitas brincadeiras. Mas  inúmeras correções eram necessárias... Se comporte, fale baixo, não fale besteira, seja simpática, fale com as pessoas, respeite os mais velhos, seja educada, aprenda, se esforce. Não sobrou espaço pro resto.
Tentei levar esse resto para a adolescência, mas não funcionou muito bem... As correções foram mais uma vez necessárias... Seja alguém, se importe, goste do que é bom, seja simpática, não fale do que os outros não querem ouvir, se não tem o que dizer fique em silêncio, não se meta na conversa alheia, participe do que você não gosta, considere que não liga pra você, despreze seus amigos, não confie em ninguém, seja responsável, consiga suas coisas, não queira crescer antes do tempo, aprenda na teoria, simule sua vida. Dessa vez faltou espaço até pra descobrir quem eu era, e talvez eu realmente nunca saiba. O vazio dessa época, foi bem pior, a TV já não preenchia, eu precisava de contato com meu mundo, e me iludia. Criava conceitos, pessoas, relações... E chorei. Chorei a cada vez que me senti sozinha, chorei a cada vez que descobri que as pessoas que eu criava não existam, nem muito menos minhas relações com elas. Meus conceitos não eram aceitos, eu me escondia, de todas as formas, só queria alguém que me encontrasse, que se preocupasse. Que me procurasse por vontade.
Em fim eu cresci. Cheguei ao topo do pouco que eu sonhava. Talvez as correções ainda sejam necessárias, mas eu já não estou disposta a me moldar mais que isso... Dessa vez, são as minhas escolhas que me trazem a sensação de estar só. Eu decido. Eu escolho.
Só não entendo por que o vazio continua... Há momentos em que ele desaparece completamente, mas só uma pessoa consegue preencher todo esse espaço... Outros tentam, mas são pequenos demais.
Só ele me procurou quando eu me escondi, só ele participa do meu mundo. Era perto dele que eu queria estar agora..

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Às vezes é tão difícil amar...




Amar é esquecer-se de você mesmo pelo bem do outro... É fazer todo o possível e 50% do impossível, só pra ver um sorriso no rosto de quem você ama. É lembrar a cada segundo das obrigações que o outro vai esquecer, só pra lembra-lo, mesmo que as suas próprias obrigações estejam lhe consumindo todo o tempo, só pra ver ele bem, sem preocupações. Amar é querer que o outro sempre se lembrasse de você, da mesma forma que você lembra-se dele... É chorar no final besta de um filme de comédia que você foi assistir com seus amigos, mas ele não estava lá... Amar é estar sempre a postos pra ajudar, mesmo que o outro não queira sua ajuda, ou se recuse a admitir que precisa de você tanto quanto você dele. Amar é estar com raiva daquela pessoa e mesmo assim só querer que ela te abrace e diga que está tudo bem... Amar é superar... É cuidar.
Mas chega uma hora que isso tudo começa a doer... E não é por que o outro foi embora, é porque ele simplesmente não enxerga mais o que é isso tudo, ou talvez enxergue, mas não se lembra, ou ainda lembre, mas... De alguma forma você não consegue ver isso nas ações dele. É quando o outro passa achar que pra ser bom você não pode fazer 50% do impossível, tem que ser 100%. É quando tudo que você faz de bom, torna-se sua obrigação, mas se você para pra espirar fundo o problema se instala. É quando a frase “Eu senti sua falta” não surte mais efeito. É quando sua ajuda torna-se uma pressão, e o outro quer deixar claro que não precisa de você. É quando por mais que esteja doendo, e você não consiga mais segurar as lágrimas que afloram  como lâminas dos seus olhos, cortando sua face e seu coração, ele não te abraça mais, nem diz que tá tudo bem. É quando você sente que a palavra “cuidar” tem significados diferentes pra vocês dois. É quando você não consegue superar tudo, por mais que se esforce. E isso começa a te deixar confuso, você começa a se perguntar de onde vem tudo isso... Qual foi a parte do “cuidar de quem agente gosta” que você não entendeu... Qual foi a parte do amor que você distorceu... Quando foi que você ficou tão ruim... O que você deveria ter feito mais não fez... E o pior de tudo, será que é isso mesmo que ele quer?
Tudo isso dói muito... E você vai ficando cansada de sentir dor... Mas você sabe que não consegue ir embora... Que você está ali por um motivo... Você realmente ama, e isso te faz querer estar perto... Mas continua doendo, mesmo estando perto...
Cuidar, pra mim, vai além do ir juntos a todos os lugares. Cuidar é deixar de lado aquele orgulho besta que impede agente de enxergar nosso próprio erro. Cuidar é, acima de tudo, se importar com o que o outro sente, e realmente refletir sobre isso.
Eu cuido, enquanto tive alguém que cuide de mim, quando não tiver mais vou ter que cuidar só de mim.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Meu mundo...


Eu criei um mundo... Um universo paralelo a esse... Meu mundo é muito grande sabe? Cabem milhões de coisas nele: Alegria, carinho, cumplicidade, risos, beijos, toques, Afagos, chamegos...  O problema é que o amor ocupa muito espaço, mas é até bom, isso não deixa que as coisas ruins entrem. Às vezes, elas até entram, quando o amor parece estar dormindo e fica lá, num cantinho, todo encolhidinho nem parece que está ali, ai as lagrimas acham que tem espaço e vão logo entrando sem pedir licença, é nessa hora que o amor acorda, esse amor que mora no meu mundo parece ser meio preguiçoso, ele acorda, mas continua lá, no seu cantinho, fingindo que nem é com ele. Pra ele acordar e tomar o lugar dele, expulsando todas as lagrimas e coisas ruins, eu preciso chamar o meu guardião. Ah, eu não falei dele né? Como se pode ter um mundo sem um guardião? Foi ele que me ajudou a construir esse mundo, sem ele nada disso existiria. Por isso que tenho que chamá-lo quando o amor não quer trabalhar, esse amor foi “criado” por nós e pra ele funcionar bem, temos que usar duas chaves:  a minha e a do meu guardião, só com a combinação das duas ele funciona com força total, toma todo o espaço do meu mundo. Eu e meu guardião fomos muito inteligentes quando criamos esse amor, apesar de termos recebido um protótipo, que não pudemos recusar, pois veio endereçado a nós dois e sem endereço para devolução, aos poucos nós fomos dando forma a ele, lógico, ele ainda precisa de alguns ajustes (a preguiça eu estou tentando descobrir de onde vem, acho que é defeito de fábrica), mas ele é muito bom quando está totalmente ativado, por exemplo, ele tem um campo magnético, que nos protege de bombas lançadas  pelos cegos, eles sempre acham que queremos atacá-los, por que será? Tem também um mecanismo que altera nosso estado mental. Esse é ótimo pra aqueles dias de mau humor sabe? Tiro e queda! Mas voltando ao meu mundo, ele foi criado por mim e meu guardião para atender as necessidades desse amor que recebemos, foi ficando cada vez mais difícil guardar ele em casa, não dava pra esconder ele numa gaveta, ele não ia caber lá. E a cada dia ele ia crescendo, o que dificultava ainda mais a sua armazenagem, por isso, fomos montando aos pouquinhos esse mundo, que tem tudo que o amor precisa pra se alimentar, ele tem muito bom gosto pra comida, só come coisas boas, como alegria, carinho, beijos, chamegos e o melhor é que seu desenvolvimento é sustentável, ou seja, agente só precisou plantar cada coisa uma vez, ele agora sabe plantar e colher as coisas boas, eu e meu guardião só precisamos ajudar ele a cuidar de vez em quando, afinal o coitadinho ainda é uma criança né? As vezes um ou outro esquece de ajudar e ele acaba ficando com fome e indo dormir, ai é todo aquele processo pra acordar ele, cuidar da comida pra ele poder funcionar. Mas estive pensando: Até que estas lágrimas que aparecem de vez em quando têm sua utilidade, afinal o amor ta crescendo, ele tem que aprender desde cedo a lidar com as coisas ruins, tem que saber como expulsá-las do mundo que criamos pra ele. Ah, já ia me esquecendo de dizer, nosso amor tem também um dispositivo de segurança também. Esse dispositivo vem sendo aperfeiçoado, no momento funciona assim: O amor anda com agente o tempo todo, por que todo mundo já conhece ele e ele também já ta mais fortinho, mas ele precisa do mundo dele, ai o mundo só é ativado quando os dispositivos que nos temos nos dedos se unem (os dispositivos são lindos, nem parece que fazem isso tudo) num lugar especifico, que obviamente é aumentado para caber um mundo né?
Nesse momento, com um mundo todo à sua disposição o amor pode correr solto, brincar sorrir, pular, gritar... Eu e meu guardião ficamos apenas como uma platéia assistindo  nossa criação nos encher de orgulho. Afinal, o amor é nosso, o mundo é nosso!
Em nosso mundo os padrões deste mundo não se aplicam, eu posso ser o que eu quiser, sem medo de que alguém me repreenda, afinal somos só nós aqui. No nosso mundo não importam as horas, os dias da semana, os meses ou as estações do ano... É sempre cedo... É sempre domingo... É sempre frio o suficiente pra ficarmos em baixo das cobertas.
Pouco importa o que vão dizer... Mas, pensando bem, ninguém pode falar absolutamente nada, esses pobres cegos não conseguem enxergar nada além de seus próprios conceitos e egos.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Meu amor é...


Meu amor é sábio e enxerga seus próprios erros, mas é idiota em não admitir isso sabe Deus por que. Meu amor é forte a ponto de enfrentar o mundo para ver um sorriso teu, mas é frágil a ponto de não suportar a simples ideia de te ver longe. Meu amor tem olhos limpos e te enxerga como você é, com qualidades e defeitos, mas nem os seus piores defeitos fazem com que ele consiga se afastar. Meu amor ri das suas piadas sem graça, mas te coloca no eixo quando alguma viagem te levará a acreditar em algo absurdo. Meu amor brinca contigo quando está feliz e precisa do teu abraço quando está triste, mas é estupido a ponto de achar que pode viver sozinho quando você o atinge. Meu amor está sempre a postos para atender aos teus chamados, mesmo quando esses podem trazer consequências, mas ainda não aprendeu a lidar com as vezes que você não pode fazer o mesmo. Meu amor sonha em passar o resto dos dias que existirem na terra ao teu lado, mas não tem certeza se isso te faria bem. Meu amor deseja mais que tudo te fazer feliz, mas ainda não aprendeu a fazer isso sem esperar de volta.  Meu amor te vê em cada esquina que passo e lembra-se de você nas piores horas possíveis. Meu amor é o mesmo desde que nossos lábios de tocaram pela primeira vez, mas se renova a cada vez que te vejo sorrir pra mim. Meu amor sente a tua presença a cada conversa no telefone onde fazemos planos, mas fica triste quando não sente tua presença, mesmo você estando do meu lado. Meu amor se alegra ao ver teu crescimento, mas tem medo que esse mesmo crescimento te leve pra muito alto, onde ele não possa te alcançar. Meu amor é como açúcar que adoça meu café com leite assim que eu acordo. Meu amor não é perfeito, está muito longe de ser aquele amor dos poetas, dos filmes, das musicas... Mas é o mais lindo sentimento que já tive. Meu amor é puro, e por mais idiota que seja, existe. E por existir nos mantém juntos. Fomos nós que o fizemos nascer, crescer e só nós podemos fazê-lo desaparecer. Por isso meu amor se esforça pra te fazer sempre querer cuidar dele. E o teu amor como é?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"você comporta minha pequena imensidão..."

"Sabe o que me dá medo? Me dá medo que a gente não seja as tais "almas gêmeas" que se encontraram, e num dia qualquer, a gente deixe de ser "a gente". Porque eu tenho medo de não saber ser isso que sou contigo, com outra pessoa. Eu tenho medo desse meu jeito de não saber ser metade, desse meu jeito de não saber me dar pela metade. Tenho medo de ter me dado demais pra você e não saber o caminho de volta. Tenho medo de não saber como me recolher de volta, caso seja necessário. Porque os meus pedaços já estão tão espalhados e ligados a você, os meus pedaços já são tão teus, que tenho medo que eles não saibam ser de outro alguém. Tenho medo de não existir um ser que comporte outro ser, como você comporta minha pequena imensidão. Tenho medo, sobretudo, desse alguém não ser você. "

Valdeline Barros (apud Flor de Cerejeira- Ísis Delmiro)